Especialistas chamaram o fenômeno de "triplademia" — já que é formada por três vírus, o VSR (vírus sincicial respiratório), o coronavírus e o influenza sazonal —, que está causando um aumento no número de hospitalizações de crianças. Em algum momento deste ano, a triplademia levou à saturação de serviços hospitalares e a altos picos de casos.
Os dois primeiros anos da pandemia de covid-19, quando escolas foram fechadas na América Latina, forçaram os pais a manter as crianças em casa e a limitar sua interação social.
Essa medida, embora destinada a proteger os pequenos e suas famílias, também fez com que eles não fossem expostos a outros vírus e não desenvolvessem as defesas necessárias.
Lydiana Ávila, pneumologista do Hospital Nacional Pediátrico da Costa Rica, disse que essa situação fez aumentar a quantidade de crianças suscetíveis ao vírus sincicial.
"O vírus sincicial é um vírus que em todos os países têm épocas nas quais circula e afeta crianças com menos de 2 anos de idade. Aos 4 anos, 90% da população pediátrica já possui anticorpos contra ele — adquiridos nos primeiros anos, quando as crianças são infectadas, ou quando a mãe passa os anticorpos para os bebês no útero ou pela amamentação", explicou Ávila.
A especialista afirmou que a cada cem crianças que contraem o vírus sincicial, em geral, cinco precisam ser hospitalizadas.
"Entretanto, neste ano vimos algo atípico, e vamos pegar os dados de forma retrospectiva, porque há um maior número de crianças suscetíveis que não adoeceram em 2020 e 2021", comentou Ávila.
Em novembro, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne, alertou sobre uma "tripla ameaça" de vírus respiratórios na região e destacou a importância de medidas preventivas e vacinação.
Mais de 100 mil crianças menores de 5 anos morreram em 2019 de infecções respiratórias associadas a esse vírus, no mundo inteiro — 97% em países de média e baixa renda, de acordo com os dados oficiais.
Prevenção e tratamento
A "triplademia" que afeta a América Latina pode ser enfrentada pelos países por meio da retomada das medidas preventivas que foram aplicadas contra a covid-19.
A diretora da fundação colombiana Fiquires, Martha Herrera, falou sobre a importância de medidas preventivas e da conscientização do público sobre o risco de bebês de apenas poucos meses de vida desenvolverem uma doença grave devido ao vírus sincicial respiratório.
"As mães devem lavar as mãos o tempo todo. Onde houver recém-nascidos ou bebês prematuros, devem evitar visitas até os 6 meses de idade e usar máscaras o tempo todo para proteger as crianças", explicou.
Herrera disse que, em toda a região latino-americana, crianças menores de 5 anos sofrem de dificuldades respiratórias de forma agressiva, o que leva a internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Ela também pediu aos governos latino-americanos que se unam para promover campanhas de alto impacto sobre o vírus sincicial, como o que aconteceu contra a covid-19.
Em termos de tratamento, a pneumologista Lydiana Ávila, do Hospital Nacional Pediátrico da Costa Rica, disse que não há cura nem vacina para o vírus sincicial respiratório, mas sim um tratamento com anticorpos monoclonais para proteger os lactentes, embora a aplicação dependa das políticas de saúde de cada país.
O anticorpo monoclonal nirsevimab (Beyfortus, da farmacêutica AstraZeneca) é o único anticorpo aprovado pela Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) para ajudar a proteger lactentes de alto risco contra o vírus.
Marcilio Araujo/Portal Picuí Hoje com informações do R7.
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